sábado, 29 de novembro de 2008


... não quero escutar nada que não seja pensamento, me privo da palavra por instinto de sobrevivência, tento fechar a tampa da boca enquanto a saliva se esvai em delírios ácidos. e sempre me perco entre o castelo e as fechaduras, quando quero ser melhor do que sou, e não sou, fico rendida entre fraquezas. me submeto ao caos com prazer pela causa, permaneço horas vendo as cores do dia se misturarem com a pulsação calada de meu inferno particular. me feres tão forte para que eu não possa me mover, absorve meus líquidos sem cuspir vespas amarelas, me deixa só entre meus abismos que um passo a frente é sempre em direção a você. percebes que assim como eu és fraco, e tão meu que a relatividade da consciência brinda com a perturbação provocada. amo teu conflito como quem respira mais não sente o ar, gosto porque decodifico sem poder mudar as regras do jogo, sou marionete dos meus eus, e nunca a angústia foi tão terna como em seus braços feitos pra morar e morrer, e já que é pra conceituar, que seja por amor...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


... meus instintos mais selvagens revelados em pequenos goles d'água. minha cartela de cores que só dá vermelho sangue em sínteses que não utilizo, e fica tudo tão assim, como se eu tivesse que me curar sem nunca estar doente. as fragilidades escorrem mais rápido da mão do que a areia que eu piso e esfrego na cara de todos que se atrevem a viver normalmente. meus bichos internos, soltos na selva de minhas redenções homeopáticas, correm livres de meus sermões nada cristãos enquanto o barulho da chuva cala meu inconsciente pseudo coletivo. meus pés tão gélidos de minhas idéias etílicamente pálidas. não faz mal, não sinto fome quando penso e me forço aos tortuosos goles. meu desejo seco de reverberar entre as suas entranhas é feroz e arranha. bicho estranho sem cor que me cheira, camuflado entre o veneno que destilo em suas vísceras, copulando desvairado meus ideais no ar. me corta com suas unhas negras, arranca meus resquícios de vergonha com teus dentes afiados de selvageria milenar, e agora sim, cobre a pele exposta com teu pelo que dói e protege de ruídos noturnos. quando pássaros se calam, as árvores somem, a luz se apaga, só resta eu e meus bichos...

sábado, 22 de novembro de 2008


... é tão bonito estranho confuso te ver dormir enquanto o vento adentra o quarto como num ballet sem métrica, enquanto eu temo pelo frio da janela aberta e das expressões que tua face semeia em meus beirais, sucumbindo a exímia luxúria de todos os barulhos que me lembram das minhas fatalidades mais humanas, que quando eu tomo qualquer tipo de coragem insana na espera que teus sonhos não machuquem a tua realidade é pra que me entornes prazer por todos os poros abertos de nossas delícias. e o vento não é mais cruel com o amanhecer no ápice de conflito que sinto o movimento do teu corpo quente na minha luminosidade inoperante, e apenas te estendo o cobertor enquanto você relaxa a musculatura e eu digo pela trigésima vez que te amo. de um jeito tão calado que é quase como se eu não tivesse dito, e tão representativo como se eu nem precisasse falar. confesso que me dói a tua imagem tão inexorávelmente sublime, que diante dela só me resta a contemplação de um ideal voraz que nutre em minha mente as fomes mais insaciáveis e em troca dele tu me ofertas teu ombro suado de tanto percorrer os meus jardins, me deito, com a certeza do meu caos, e do nosso bonito estranho confuso eterno amor...
... faço novamente a minha transição, sem respeito nenhum a qualquer argumento vil, pela simples mutação arcaica que não cabe em mim mas que toma forma. vou moldando sem saber o ritmo que a lucidez opera, e mudo o sentido, engulo a direção, derrubo todos os sinais de trânsito que é pra te ver percorrer bonito sobre as minhas avenidas contidas em todos os frascos vazios que te representam tanto. e só me resta mergulhar na secura da alma revolta de sons, aceitar, mesmo que não seja em silêncio e que eu quebre todos os vidros que sustentam suas fraquezas tão nossas. então me envolve no teu gozo que te levo pra cabana mais sem razão que habita meu seio, que se multiplica pra acolher toda a sua escuridão, e que se transforma toda vez que a sua mão toca meu infinito tão sujo que chega a ser branco...
... insuportavelmente perfeito, mente todo dia uma rima pra mim. me dá um tapa na cara ou um beijo quente que é pra ver se o sono vem, só espiar se ele mora por aqui, ou se meus devaneios se partem em tantos que chegam a ser nenhum. e se dentro de tudo o que eu cuspo existe um eu, que corresponde a qualquer delírio que cheira forte entre o travesseiro e a cortina. ou a folha que seca com sabedoria pela madrugada que vomito na própria pele. grita! me sufoca com a ausência de cor no teu peito, mistura minhas tintas e tenta por favor me confundir, que entre todos os muros e porta-retratos existe um pincel. nunca fiz parte mesmo, e nunca perdi lágrima com isso. escrevo pra alimentar a angústia que me alimenta, e minto pra te ver sorrir, muito melhor que tuas rimas de nuvens bobas. melhor que a vontade de sentir você violando todas as minhas virtudes e me entregando ao lixo, pior que um nada. abusada de tuas vestes tão ressentidas com as minhas. devorada pela tua sede de mim, só de mim, que me cansa tanto que eu já não vivo sem...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

... e se é vontade de chorar, que eu derrame o cume de todas as montanhas, porque existe vida dentro da vida. e me aperta o peito essas lágrimas que não consigo soltar, prendo junto ao pulso que me cala de nuances que tento destingir, vira tudo sombra numa memória mesquinha. a eternidade perpetuada em teu ventre marfim, meus escrúpulos tão insustentáveis quanto a minha beleza. e se é vontade de gritar, que eu supere a dor do parto e te deixe fluir, levando meus pedacinhos.. me sinto assim, coisinhas pequenas que são distribuídas, gigantes em sua miúdez, saturadas de volúpia e caos. perdidas entre as unhas que quebram e o cinza do dia, e quando as gotas de chuva se desprendem das nuvens, penso que até o céu sabe chorar melhor que eu. e fica estritamente esclarecido que devo aprender a chorar, submetida ao hedonismo lascivo sustentado pela inteligência emocional que me cabe quando os sentidos me tocam. as coisas. as cores. as palavras. os sons. a chuva. a janela. o mar. os prédios. eu. eu. eu. que tudo me afunda em devaneios poéticos... e se é vontade de ser, que eu descubra que preciso de um ardor urgente que me salve da compreensão sensorial de uma vastidão desmedida, e que entender demais também é uma forma de ilusão. queria pintar as paredes do quarto, e junto com elas trocar a cor das minhas asas. hoje, o querer, não basta...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

... embriagada de teu sono insípido me vejo em recortes, tinta fresca que cheira heresia a todo vapor. um segundo e o vidro se quebra, pingos de verão invadem receios, edifico o lar em agulhadas quando te vejo perpetuar teu umbigo em minhas devastações, e teus olhos fechados não negam o ardor saliente que se curva diante dos antigos deuses. vazios e repletos de nós mesmos, poeira estelar que se materializa no feixe desconexo entre o tiro e o sexo, submerso a faca e ao corte. chove em mim... e me molha de teus delírios tão meus que a noite vem chegando e quando me encontro com ela me torno novamente aquilo que não tem nome nem controle, mas que vagueia e te domina até o ácido ferir a pele tão forte que desejarias imensamente que fossem meus dedos poéticos, ou minha alma chumbada de filosofias roxas. e o efeito ressonante em teu pulmão tão cansado de minhas vértebras chegaria a doer se não fosse quarta, e se eu não te amasse tanto, que quando machuco meus sentidos é teu corpo que sangra...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Bicho de sete cabeças

Já é tarde, me aconchego entre as almofadas vermelhas, nelas moram um conforto absorto da concepção que faço universalmente. Aperto elas com força, e vejo o dia se esmorecer entre os quadradinhos da mesa da sala, deixando as horas liberadas da obrigação de mundo, pintando elas de preto e branco. Me engulo por mais uma primavera, é sempre melancólico ver o começo e o fim, mas me agrada o senso do feio, impuro, daquilo que se desfaz. As velas ficam no canto, é como se escondessem luz, faço isso também, compreendo elas sem pinceladas de angústia. O tapete verde musgo não se rende aos meus apelos de fruta da vez, e alguma dor a gente tem que carregar no peito. Não como martírio catolicamente regenerado, mas no sentido da humanização do Ser. E aceito entre os vasos sem cor o meu direito ao grito, o faço sempre que necessário, expulso até quando não é, mas fica entre nós. E deixo assim, o fogo se espalhando pela floresta interna, deixo queimar, sinto arder. Suporto e subo em nuvens, até que a Lua comece a acarinhar a pele do estômago. Aprecio o som da palavra, preservo os loucos, me assumo um pouquinho. A campainha toca agitada, e permaneço contemplativa. Pouco a pouco abro os olhos, está tudo ali. Deveria estar? Quando é que a gente sabe que quer algo mude? E quando acontece, plum! Tá feito. E assim, as mesmas almofadas vermelhas ao redor, o tapete verdinho que ganhei de presente. Mas as velas, nesse momento, estão apagadas. Será que ele esteve aqui? Ele quem? Meu eterno segredo de um livro sem folhas. Faço do momento um movimento, me atiro de dentro do meu casulo em direção ao eu, uma puta aflição ou um aflição puta me consome, eu deixo, fique aqui, inquietação. E que aconteça algo de mágico a você, desejo de verdade. Pois se eu falar que desejo mais ou menos não deve fazer tanta diferença. Quero sempre com o displicente te levar aos lugares onde eu guardo sonhos. Mas se tu não alcanças, te lanças, aos mares que sonhei, pois de terras e conflitos, de tudo naveguei.