quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Paralelo

Chego a estação das rosas cálidas, passo por trilhos que não me levam a lugar algum, ando em círculos como se eu esperasse qualquer cura milagrosa que viesse com qualquer merda de nome que me fizesse respirar sem sentir o peito doer. Respirar as vezes é o qual dos afins mais complexo. Não ráro eu me escondo do sol, mas as frestas entre as folhas deixam a vida me queimar diante de meus olhinhos infantis, e fico ali, um tempão desperdiçando suor com nada. O nada existe, e consome. Subo no balanço na espera de que algo mude, nem que seja o sentido. E sei que essa doce espera de aparência estéril pode ser uma grande idiotice, mesmo assim, me permito. Penso que gosto de ser idiota as vezes, me sinto pura. Puramente patética, e vejo beleza nisso. Tal qual deitada na grama olhando o céu, eu já não me importo com o ritmo sinuoso dos dias azuis-certinhos. E o tempo passa tão depressa que nem se eu fosse melhor do que sou, ou se esse "sou" fosse um estado sólido de consciência, adiantaria de coisa alguma. Continuo seguindo as estrelas, e os trilhos ficam cada vez mais estreitos, quase dói segui-los mas não segui-los é algo do qual eu não me perdoaria. E vou assim, me enganando em troca de qualquer amasso gostoso. E nos dias que eu não me suporto, me imagino numa fazenda de girassóis, sentido... Vivo desnuda e não sinto vergonha, a vida não me prende, e hoje é só mais um dia que eu sinto medo, o medo passa, a vida passa, e sobra só essa goma enroscada no peito que nêgo chama de amor. Eu quero paz, tardes de amor nunca mais.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O teu olhar ao ver a flor

Confesso que sinto o gosto sujo do ópio rasgando minhas entranhas, estranhas. A triste entrega inacabada num domingo qualquer... Sentada no parque entre as viagens astrais me fixo à joaninha, pequena, mesquinha. Calada. Eu que vez ou outra revelo que possuo um grito em mim que não cessa, me atormenta nas noites que eu aceito a melancolia concedida, ardida. Canta pro mundo parar agora, que o Prozac tá fazendo efeito e já não vejo nuvens de anis, assim. Faz também o vermelho não irritar, insolente. Minta o blá-blá-blá mais bonito desse troço chamado amor, chore todo o pote de orgasmos possíveis, adore o erro. No fundo, baby, a gata só quer um rato sujo pra dormir, e que isso role com tanta proeza que se torne real pouco a pouco... Como uma migalha de pão perdida na imensidão do existir, é que as vezes, confesso: existir me limita mais do que me cansa, e os porres já não resolvem a inquietação, a busca pela última ponta, o brinde a solidão. Então, boy, devolve o girassol da minha janela, entende a falta de vocação pra Cinderella, e pensa, percebe, o mundo é uma bolha de sabão. E sou assim por não conseguir respirar a muito tempo. Saca? Tempo... E o roxo dos meus lábios não é frio não, é busca maluca por solução, sol. luz. ação. Me deixa aqui no canto da sala, recolhida entre os meus pedacinhos, poucos. Pois sempre me senti perdida, um brinquedo torto.