quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Imensa

A velha falta de compostura. Um reencontro ácido. Intenso. Magnético. Essa lua cheia brilha comigo. Num impulso pensado, entendido, só porque você gosta. Tocava um tango ao fundo. E te bastava a voz de dentro. Nua. A girar pela noite fria; próxima de sentir o gosto cinza calçada que invadia sua bolsa com estampa de artista mexicana. Antes de dormir. Sorria. Com o entendimento de uma pecadora por excelência; ruminando nos corpos alheios, sua audácia de viver.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Castelo de areia


Resoluções de finais de ano precisam combinar com essa cor que eu quero inventar? A direção me leva da eloquência onde espalho as gotas pela superfície dos timbres percorrendo o chão das delícias imaginadas; até o fechamento dos meus olhos para um eu que não existe mais. Renovei minhas palavras velhas, mutilei o sorriso que precisava, tirei todo o precisar de mim. Vi um vulto vermelho pulsante e descobri que tenho um coração apaixonado. Não sabe decodificar teoremas de complexidade mas sabe ceder, aceitar compreender. Eu compreendo tudo. Não vês? Eu nasci para o amor. Beijar uma multidão de silêncio não é imoral, pecado é desistir de si mesmo. Quebrei, estou, fora. Saltei, enfim, da bolha. É libertação? Ainda não é isso, a alma que repele ondas de negatividade enquanto me coloca em seio materno de vertigens doces, alucinadas! Tenho tido muitos sonhos, meus prelúdios do teu ser, muito certos. Eu escolhi o erro. De saber e mentir mais que os outros. Rasguei o caderninho de delírios, se você encontrar um meu correndo por aí diga que não o quero. Só o que movimenta minha sensatez é paz do meu menino.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Entorpecida


Era só uma questão de lugar. Onde eu pudesse acomodar a demanda de argumentos sugestivos. Não precisava ter um rosto ali, balançando a cabeça como se concordasse comigo. Porque eu mesma não me aceitava, vez ou outra. Então tava tudo bem, era sexta-feira, o ano estava acabando. Eu repetia em tom baixo que cada um é responsável pela sua loucura. E por mim, continuava tudo bem. A humanidade leu O Pequeno Príncipe em demasia. Cada um é responsável pelos seus próprios atos e crises. Aceite isso sem dor. Embora venha a doer nas noites em que você fica sozinho no quarto se sentindo a lasca da sociedade atual. Porque eu me cansei dos moderníssimos, entende? Queria qualquer coisa quente ou morninha, tipo um arroz doce. Não precisava mais do caos noturno. Se tornara uma mulher morena dia. Quase feliz, se não fosse a melancolia natural dos desiludidos.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Antes do cinza do dia


Primeiro vinha só o gelo seco...

Eu tava perdida num sonho onde você não podia entrar. Porque era feito dos nossos pedaços. Cada camada de sonho foi uma cena que você construiu no meu consciente. Não existe paralelo entre meu rosto e suas feições. A nossa causa era a versão única da memória. Naquela viagem em que o frio fora mais forte que a vontade de desbravar o território e nos lançamos nús num hotel qualquer. O primeiro que não era caro nem barato, perto dos bares, próximo daquele pedaço de madeira onde escrevi a frase que hoje não-me-vem-de-jeito-nenhum. Às vezes lembro que o esquecimento é bom. A essa altura do campeonato eu já teria feito um outdoor com a frase que outrora significou o íntimo. Só para você rir e saber que eu faria todas as tolices da paixão para ver os seus dentes enormes aparecendo. Sempre tive inveja do tamanho dos seus dentes, eu não podia morder maior que você. Não, eu não mordia pequeno. Meus dentes é que insistiam em ser miniaturas do meu potencial, que é enorme. Eu não tava esperando você me agarrar pelas costas e falar meu nome com a maciez que só você alcança. Eu queria esse beijo gostoso. A rede embalando nosso vazio ao violão. O sabor da nossa palavra em silêncio. Que habita todas as varandas e abre todas as janelas dos que têm coragem de amar assim. Profundamente.

As luzes se apagam!

- Eu te quero muito.

- Eu também, princesa.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Segredo


Tentando interromper um ciclo. Esgoto minha capacidade de cortar o cabelo, sem tintas, esquece a tesoura, a inquietação em mim vai ter de se acostumar comigo. Perdi meu coração junto com a comida no prato, deixei o brócolis ficar com o arroz, em cima da mesa. Esperando que eu o coma. Abandonado ali ele nada podia esperar de mim. Nem eu dele. Procuro a sorte da não necessidade, era só assim que eu podia amar. A força do sentir arranca minhas vísceras até que eu vomite palavras de entendimento portátil, aí você as carrega no seu bolso. Com achismo de quem crê que me entende. Mudei. E não foi difícil como dizem os tolos. Há sempre uma esperança escondida por detrás do pano de limpar os móveis, mesmo que a sujeira do passado te impeça de ver. É possível que o meu desengano seja a arma que eu preciso nessa guerra onde os vilões são mais fortes. E eu nunca fui mocinha. Era daquelas que não se define, que não inventa tatuagem para fortalecer as pseudo-verdades sobre o que se é. O tabu, era o meu próprio grito, minha própria pele já me marcara de modo que eu não poderia passar tinta em cima e fingir que eu não era manchada de acontecimentos. Busco com avidez aquela menina que eu nunca fui, até forcei marcar um encontro com ela, desmascará-la! Dizer que eu sim sou real. Mas o que é a realidade? Que distorção eu faço das cousas? A pergunta não finda. Mas nesse diálogo ninguém sobrevive. É um eu que morre e o outro que te mata. De amor.

Sem consciência de eternidade, no breve tocar dos lábios...
É aqui que a gente se encontra... mais uma vez.

...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sobre pontes involuntárias


O meu sorriso hoje tem gosto da noite de ontem. Possui brilho de rua, magia de um som num espaço que só poderia transcender tensões musculares, fatalidades estabelecidades pela comunhão de mentes evoluindo a naturalidade da idealização da matéria; meu corpo em movimento com o seu corpo. Império perfeito.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ainda é cedo, Fernanda


Quantos pensamentos você tem por dia? No pulso o ponteiro maior me indica que são dezesseis horas da tarde, eu já morri três vez até agora. Fui pistoleira no velho oeste, plantei batatas onde não havia modo de plantação. Questionei o que me faz sorrir de verdade? Perguntei, é isso mesmo que eu quero? E como posso eu ter tanta certeza de mim. Sou composta de pernas maiores que os braços e urgências tranquilas que escorrem como água doce das represas de origem obscuras. Sou um hiato perdido.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Infinito em tom maior


Desprender à si. Deixar a roupa ir embora com a areia, lavar a alma do corpo; deixar romper, andar pela simples motivação do dia quente, sem invasões de pensamentos bárbaros. Sem aquela nostalgia que inventamos, apenas deixar ser. Porque as folhas daquela árvore que se derrama pela calçada pode ser toda a minha razão e todo o meu começo.

Sunny


Sentei na cadeira e coloquei Beatles para tocar, é meu ritual religioso. Eu diria para qualquer um que me ouvisse murmurando a melodia da minha menina. Final de ano sempre me cobre a face com a calma que vem dela, a pele branca que me arranca as dores de existir, os colares, um de colorir amor e outro em pura liberdade. Não é apenas uma passagem no tempo, estaríamos nós perdidas nesse tempo algum? Haveria apenas uma resposta? Então eu organizo as viradas de ano e refaço cada palavra certa, porque é só a sua palavra que me convém até quando eu não ouso me contrariar. É a letra que vem do vale mais bonito da serra que quebra as massas cinzentas de concreto bruto que eu construí só porque eu precisava de armadura contra excesso de bondade. No fundo estreito do sentir fica esse sabor de chuvinha fina. O eclipse que aconteceu sem ninguém supor que estávamos lá, que a junção dos mundos éramos nós. Apenas Sol e Lua.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Meu tempo sou Eu


Estacionei o carro debaixo das árvores, fiquei alguns minutos ali, esperando qualquer coisa acontecer; sabe quando a coisa inexplicável sobre humana-paradisíaca não ocorre assim pela manhã quando você tanto quer. Insisti apertando forte os olhos, disso me restou uma pedaço de dor de cabeça. Mentira, sempre peso meus pensamentos pela manhã, acompanhado vez ou outra de dores. Segui para o trabalho, disse bom dia sem vontade de dizer, sentei na cadeira e comecei a contar as horas para almoçar. Porque o almoço é a fuga da alma, em tempo assalariado, respira-se uma hora por dia. Meu cabelo ainda molhado me lembrava a sensação fria do vento e espera. Pela quantidade de folhas em cima da mesa imaginei um daqueles dias em que mal se vai ao banheiro, quiçá tempo de remoer uma espera. Eu não estava exatamente enganada, eu não costumo exatamente me enganar. As emoções esfuziantes ficam para os adolescentes, que só estudam com horas vagas para surtar de paixão; eu não. Tenho horários à cumprir comigo. Não me encontra sentimento dentro de mim que não espere o relógio bater dezoito horas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Solúvel


De início parece que toda aquela construção que ele faz da boca pra fora, é mágica.

Tons frios


Rompendo o silêncio sinto formar a vida em mãos firmes, acostumadas com acelerações de partículas dissonantes; congela-se a face de qualquer movimento tolo, fuma o cigarro até o filtro que é pra encontrar o lapso de verdade que vibra atrás do que não se deve fazer. Juntei meu botão num colorido íntimo e me esqueci que o mundo inteiro pode ouvir essas pequenas vergonhas; a gente entrega nas menores cousas.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dois em um


É apenas a morte, a memória dos velhos lugares; renovar aquele sabor de suor e fúria sucumbindo aos corpos na pista em preto e branco. É o mesmo gosto de antes, mudam os rostos mas a temperatura continua propícia ao contatos íntimos; cria-se a devoção pelo toque, nos vestindo deuses de nós mesmos. Na escuridão de cada cela um porta-retrato tomba, não é a música. Na televisão é a violência exposta nas fissuras sociais, sem novidades. Você volta pra mesa de jantar e flerta com o esquecimento, mas sempre sobra uma fagulha de dor. Individual, sua. A minha hoje é um vazio que a minha hipocrisia me permite dizer, é um outro coração que bate junto com meu, não têm ligação de sangue, não têm a menor razão de ser ou de existir. Mas é. Com a sua potência de totalidade o meu vazio quente escorrendo pela nuca ao som de um jazz dançante. Eu brinco de ser feliz junto com vocês, se é pra batucar eu batuco! Sorrir na chuva, eu engulo o frio com cachaça seca cortante em garganta musculosa de tanto engolir choros secretos. Poderia eu perder o senso no show da vida, fiquei com um bilhete roubado; ainda há esperança; há em mim muitos deslizes insuspeitados. Não me tema como se a minha voz fosse te congelar? Eu também quero o conforto da paz, segura, sem tanques nas ruas. Como a gente sonhou daquela vez. Sim, meu amor, como sonhamos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sintomas


Saia preta blusa negra e espera. O portão se abre, mas não sou eu que grito é um algo indefinido que me faz lembrar você; esse gesto suave que me empurra para o precipício da razão, agonizo as horas em que a completude espera a tarde cair, engulo esse líquido espesso que você guarda na geladeira, eu nem gosto da energia marrom cafeína que ele produz nas minhas células sonhadoras, eu nem gosto de como você conduz as bolhas de sabão no ar. Eu poderia ser ela, vagando indefinidamente, eu não. Preciso de qualquer explicação mesmo que fuja à coerência. Deito no lençol manchado com as lembranças, a mente é capaz de produzir todas as sensações, fica o espírito querendo assombrar a idéia de corpo, compreensão mútua de pele. O relógio me assusta dizendo que faço tudo num tempo meu, inexistente; o sonho é capaz de pertubar os sentidos com as minhas palavras girando na fotografia que você rabiscou tentando modificar o amor. A liberdade não é um freio de ligação, é o começo e o fim. Junto agora todos os meus pedaços; colo, costuro, pinto. Deixo até você escolher a cor. Mas só dessa vez. Porque eu sinto um novo vento que vem de dentro de você, balança quando a minha presença te toca. Sabemos que não há num outro esse uno, parte, inteiro desmetaforizado. Abandonamos terra, casas, pessoas... Fomos destinados à inconpreensão secreta de nós, suja, virulenta. Mais forte que os meus delírios no supermercado, ausência de pudor, profundidade secreta. Toda vez que eu te sorrio têm um eu em mim que chora, essa paixão avassaladora, seu violão. E a nossa música já foi escrita na aurora dos anos, agora senta na cama que me cortou a sensatez, deita nas plumas etéreas dos pensamentos possíveis, ignora o amor, estamos acima dele. Juntos.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Advento de corpo


Deixa o risco fazer parte da respiração, contínuo, adverso, eu sim, sei fazer tijolo virar casa. Fui eu que envolvi o teu corpo em nuvem, eu, só eu que te aqueço o riso.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

É tempo de voltar


Faz tanto tempo, querido. Eu te deixei aqui, só de mim. Não precisa me pedir para inventar uma máquina do tempo que me torne menos humana por dentro no sentido do que é real, calma, respira, eu nunca quero explicações; não percebes que meu sorriso não se ausentou das tuas páginas?! Desse branco que me rasura na fina espera da arte final. Pode rir! Com a glória que eu iria chegar aqui. Sabe, querido, eu dou risada também. E faço bem feito, construo uma casa com as madeiras da mesa da sala se hoje você falar que vem, faço mesmo, me acredita! Quando a gente quer que alguém volte por completo, a gente constrói qualquer cousa. Os meses foram charme, que saudade bonita que você me faz...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tarde que late

Continuo enfiando a colher melada de chocolate na boca, não tenho mais vontade de comê-lo, um enjoo vem do estômago, insisto, empurro a colher, empurro de novo. Uma vontade ancestral de terminar o que se começa, mesmo que haja vomito. Raspo as beiradas até ver o branco da caneca que ganhei de um amigo que passeava em Porto Alegre. Aqueles bibelôs idiotas do tipo "estive aqui e lembrei de você." Já não existe mais o chocolate que fabriquei para consolar a minha aflição de ser eu. Fico querendo compreender os restinhos que sobram na caneca, quero ler, eu quero ler tudo, ter uma mediunidade além da carne. Do que me serve? Alguma percepção maior de que você tá fazendo burrada e eu continuo certa. Decifrando a dor que sinto por roer as unhas até machucar a pele. E sentir latejando pelos próximos dias, até a unha crescer um pouquinho e eu me angustiar novamente. Bebo água para retirar o doce da boca, como doce em seguida para revidar a água. Vivo nessas compensações vivas. De noite eu sou muito mais fácil, permissiva, deixo rolar, fluir. Você diz que me entende, o outro quer ser meu amigo. O mundo nasceu pro toque, cuspes, lambidas. Morde aqui? Ah, você faz isso tão bem querida. Eu quero mais chocolate, correlações estúpidas, meu nariz entupido de melecas que enrolo e jogo pro ar. Secreções imateriais, agora eu lavo a caneca e as mãos, deixo escorrer para o ralo com as minhas urgências de submundo...